Mariana Pimentel (Primavera / 2020)

Depois de vários meses de quarentena, decidi fazer uma viagem – sem deixar de respeitar as normas mínimas de saúde. Ao procurar o destino no mapa, gostaria de algo que não fosse completamente asfalto nem fosse encontrar pessoas aglomeradas. Eis que encontrei Mariana Pimentel, menos de 4 mil habitantes e 3 pontos turísticos a conhecer: Cascata do Português, Pedra Equilibrada e Cascata do Chicão.

recomendo o relato do Juliano, que foi pedalando para Mariana Pimentel, em 2016

Tracei a rota no Komoot, que não permitiu cruzar as pontes, então tracei a partir de Guaíba: 66 kms, sendo 36 de asfalto e 26 de estrada de chão:

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IDA – SÁBADO: 96 kms saindo de Porto Alegre

Saí de casa às 7h e, por erro meu, não consegui fazer o ciclocomputador / GPS funcionar. Apesar de a tempetura estar por volta de 20º C, o sol já era forte, pois o céu tinha poucas nuvens.

As passagens pelas 4 pontes sempre foram perigosas no sentido Porto Alegre > Guaíba, uma vez que não possuem acostamento. Agora, com o trecho em obras, parece que está ainda pior. Foi bastante perigoso e estressante, então tentei passar rápido.

Depois de passar por Guaíba, o movimento na estrada era menor. A bicicleta rendia bem e o vento lateral soprava no sentido leste > oeste, então me ajudava levemente.

Ativei a localização do celular, para usar o OsmAnd, mas ela não pegava de jeito nenhum… nessa hora comecei a ficar preocupado sobre como faria a navegação. Será que os satélites haviam se voltado contra mim? Haveria o universo conspirado sobre minha viagem? Ainda bem que não acredito nesses charlatanismos baratos e confortáveis.

Conforme o planejado, alcancei a entrada para Mariana Pimentel às 10h. Comi o último sanduíche de queijo com goiabada. Decidi percorrer os 26 kms de estrada de chão sem GPS, apens seguindo a rota, pois não era muito difícil acertar o caminho certo:

Murchei os pneus (35mm) até uns 30 psi e fui. O terreno é típico dessa região: rocha por baixo com areia / terra por cima e repleto de “costeletas”. Nos trechos planos, a bicicleta se mostrou firme e andava bem. As subidas, desde já, começaram a se ser um problema… minha marcha mais leve era 39 x 27, então cada elevação era sinônimo de cadência baixa (na casa dos 60 rpm) e dentes rangendo de fazer força.

dust

A temperatura aumentava conforme o tempo passava. Tomei quase todo o isotônico que levava na caramanhola térmica. Cheguei em Mariana Pimentel às 11h10min com sede, então comprei outro isonônico (sabor uva verde, gostoso que só…), porque sabia que dali em diante o calor deveria aumentar.

Felizmente a localização do celular pegou, o que me deu bastante ânimo. Não sei como seria se não tivesse pego. Com a rota carregada no OsmAnd, parti para a Cascata do Português: andei 6 kms por um caminho que ainda não está aberto para carros. Encontrei um trator preparando a terra, empurrei em uma subida de terra fofa e cruzei o Arroio Pequeno por uma ponte:

Depois de 50min, cheguei na Cascata e conheci o dono, seu Zé, super simpático. Havia pouca gente lá. Comi 2 sanduíches (pão, manteiga, queijo, broto de rabanete e bife de glúten) como almoço e descansei um pouco curtindo o visual.

Pelas 12h50min, saí em direção à Pedra Equilibrada. Seu Zé não me cobrou, porque eu fiquei pouco tempo, mas a entrada (para passar o dia) é R$8,00 e a noite (para acampar) é R$15,00. Sabendo que tinha tempo de sobra, segui com calma, mas havia muitas subidas no caminho.

Depois de 40min percorrendo 6 kms, cheguei exausto na Pedra Equilibrada. Eu sabia que o acesso ao cume dela se dava por dentro do terreno de uma casa. Não encontrei ninguém por lá; avistei ela de longe e considerei como objetivo alcançado:

done and dusted

Me direcionei para o destino final, mesmo sabendo que era um pouco cedo demais. Novamente mais 6 kms de estrada de chão, mas agora a maior parte era descida. Chegando no ponto em que o GPS indicava, avistei uma casa. Tentei passar despercebido, mas havia dois homens (trabalhando na terra) que me veriam, se eu tentasse entrar no terreno… Falei com um deles e ele me orientou a falar com o dono. Foi então que conheci o Chicão, expliquei a situação e brilhou o olho do gato de botas: me deixou dormir por zero reais! A trilha não é bem definida, tem um pouco de mato fechado e o terreno é bem inclinado, mas o esforço tem sua compensa.

Tomei banho, me alonguei, observei a vegetação, pratiquei o nadismo… Depois tirei um cochilo dentro da barraca. Ao acordar, percebi que estava um pouco queimado nas pernas, nos braços e na nuca. No final da tarde, Chicão e sua companheira passaram por ali com os cachorros. Trocamos algumas palavras, eu agradeci mais uma vez. Ele chegou a me convidar para jantar, mas por motivos de COVID eu disse que tinha comida. Seguindo a dica do Igor, levei feijão em caixa (pronto para consumo). Molhei um pão e fiz a festa… a qualidade da foto é inversamente proporcional ao prazer de comer isso:

Demorei um pouco para dormir, mas consegui descansar bem com o som da cachoeira.

VOLTA – DOMINGO: 83 kms

Acordei às 6h45min e saí para urinar. Com céu nublado e 16º C, fiquei no saco de dormir até 7h15min, quando comecei a me arrumar. Comi uns cookies Toddy de café da manhã (bomba de açúcar) e às 7h50min tava saindo do acampamento.

A mochila tinha 6 kgs durante o dia anterior e agora as minhas escápulas estavam doloridas. Isso ajudava na sensação de desgaste geral do corpo. Pedalei os primeiros quilômetros devagar para aquecer. Ao percorrer o caminho de volta, me dei conta como esse trecho de terra torna a cidade isolada. No meio desse caminho, tem uns bairros (Potreiro Grande, por exemplo) que parecem ainda mais ilhados pela areia.

transição entre a cidade e o caminho de terra

Às 9h45min, cheguei de volta ao asfalto. Andei uns 8 kms com os pneus ainda murchos até chegar no posto de gasolina da entrada de Barra do Ribeiro. Parei ali e fiz um “pit stop completo”: fui ao banheiro, comi um pacote de batata chips, joguei fora a água da mochila, enchi as duas caramanholas com água gelada, lubrifiquei a corrente e calibrei os pneus.

Eu já percorri o caminho de volta até Porto Alegre algumas vezes (em outras viagens ou em treinos), então não estava muito motivado. Em função da duplicação da BR-116, pude andar uns bons quilômetros na faixa nova com quase nenhum veículo:

O céu nublado ficava alternando com o sol. Quando batia o sol forte, eu sentia o braço arder de uma maneira que nunca senti antes. O vento seguia soprando no sentido leste > oeste, ou seja, agora ele se virava contra mim. Quanto mais eu andava em direção à capital, mais ele batia de frente. Desci a última ponte pedalando a 13 km / h …

Cheguei em casa com a impressão que esses dois dias duraram uma semana.

Conclusões:

  • Nunca tinha pedalado com uma mochila de 10 litros de volume. Os 3 litros de água são generosos e me deram autonomia para beber o quanto quisesse mesmo com bastante calor, mas os 6 kgs totais foram um problema. Talvez se tornou um problema em função da mesa estar no mais baixo possível.
  • O trajeto é ideal para bicicletas mistas: gravel, cyclocross, híbridas… Mountain bike rígida vai bem também, a suspensão não é necessária, já que não há trechos extremamente técnicos. A técnica necessária é mais o equilíbrio para trechos “bumpy” do que uma trilha mesmo.
  • Plantações de fumo são comuns na região, assim como os eucaliptos.
  • A parte boa do trajeto está toda em Mariana Pimentel, então faz sentido pegar o Catamarã (não peguei por motivos de COVID) ou ir de carro até lá.
  • A mochila (Osprey Syncro 10) é muito boa, prática e leve. O bico do reservatório prende com imã no buckle do peito, muito fácil de pegar e “guardar”. O problema foram os 6 kgs mesmo.
  • Os pneus Bontrager GR1 Team Issue surpreenderam. Atenderam bem a demanda em todos os terrenos que passei. Surpresa positiva!
  • Lista completa de equipamentos, detalhes da rota e mais informações aqui.

Abraço e até a próxima!

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